26/09/2022
E se o único jeito de não se sentir mal for parar de sentir qualquer coisa para sempre?
(Hannah Baker – 13 Reasons Why)
A questão feita pela protagonista de13 Reasons Why (2017) – Os 13 porquês, em português – série americana baseada em livro com o mesmo nome que gira em torno das consequências do suicídio da protagonista, após uma série de acontecimentos, provocadas por indivíduos dentro de sua escola, revela o desejo urgente pela fuga da dor emocional que assola a personagem. Por vezes passamos por momentos em nossas vidas em que desejamos também fugir de dores, situações ou sentimentos que nos fazem mal, mas será esse é o caminho para enfrentarmos tais problemas?
A partir de relatos em escolas de Paracatu, que vão de encontro com situações retratadas em redes de educação de todo o país, tomamos a história de Hannah Baker como dispositivo para refletir sobre algumas lições que podemos extrair para nossas vidas. Hannah, da série 13 Reasons Why é uma adolescente que enfrentava alguns conflitos emocionais em seu cotidiano escolar e toma uma decisão radical. Neste texto, buscamos entender a partir do cotidiano escolar como nós, educadores, podemos servir como ponto de apoio para nossos estudantes.
Retomando o enredo da série, esta aborda assuntos que afetam muitos jovens de nossa sociedade como depressão, bullying, isolamento, abuso sexual, automutilação e suicídio, assuntos esses que, como educadores, podem estar diante de nossos olhos e é importante estarmos atentos para ajudar a mudar o rumo de histórias como a contada na série. Por isso, nosso exercício aqui é inverter nosso olhar sobre os sentimentos de nossos estudantes, estar atentos aos seus sinais e nos esvaziar de atitudes tomadas por um julgamento prévio que podem acometer nossas práticas cotidianas. É preciso fortalecer no ambiente escolar um espaço onde as relações entre professor-aluno, família-escola, equipe escolar seja estabelecido a partir do diálogo, da escuta e da confiança entre todos, para assim, enfrentarmos os desafios que surgem e encontrar as muitas razões que nos fazem ter coragem para viver!
Por que a vida dá errado? Por que tudo dá tão errado?
(Hannah Baker – 13 Reasons Why)
Quem nunca já se pegou tendo esses tipos de questionamentos? Não é um problema indagar-se vez ou outra. O que devemos estar atentos é o peso da cobrança que colocamos em de nós mesmos, no outro, sobre as coisas, no tempo, no mundo e, não encontrar sentidos na vida.
A vida é mesmo imprevisível. Quem imaginaria nos tempos atuais com tantos avanços de um mundo pós-moderno, ter que enfrentar uma pandemia que deixaria o mundo sem saber como agir? Esse cenário pandêmico trouxe desafios e deixou muitas marcas na sociedade mundial. Certamente você não é a mesma pessoa, tampouco o mesmo educador que antes de uma experiência inesperada como a que todos vivemos nesses dois últimos anos.
E por que a escola tem que ser a mesma? Por quê nossos estudantes deveriam ser os mesmos? Que lições podemos tirar dessa experiência que assolou a humanidade?
Para Hannah suas experiências vividas tinham esse lugar do erro, a forma que ela sentia o mundo a fazia questionar o porquê de as coisas darem errado. Muitos jovens também já se encontraram nesse lugar, outros ainda se encontram. Mas, a questão que queremos apontar aqui é que precisamos ressignificar o erro para com ele extrair aprendizado. Importante lembrar que ninguém acerta sempre, questionar o mundo pode ser muito potente para nos engajarmos em transformações e mudanças.
A pandemia descortinou as nossas fragilidades, as fragilidades da educação, da saúde, do mundo. Mas também deu a oportunidade de potencializar e criar outras possibilidades. No campo da educação por exemplo, quantas vezes não foi preciso refazer o caminho para encontrar outras formas de exercer a docência? Entendendo a vida como lugar de experimentar erros e acertos, perceber que é isso que a faz ter sentido e gera aprendizados e formação em nós, queremos te incentivar a pensar em práticas educativas que percebam o erro como situação potencial de formação do sujeito estimulando em seus estudantes uma reflexão sobre quais aprendizados podem tirar dele.
Errar faz parte, então não seja tão duro consigo quanto educador, tampouco exija tão bravamente que seus alunos acertem sempre. É preciso saber reconsiderar, tentar refazer, começar de novo, mudar a cada vez que se fizer necessário.
No ambiente escolar, invista no diálogo, escute seus estudantes, organize rodas de conversa, crie ambientes de debates, organize projetos de protagonismo estudantis e amplie os espaços para que ele se sinta à vontade para errar e aprender com os erros.
Como você pode consertar algo se você não sabe o que está quebrado?
(Hannah Baker – 13 Reasons Why)
Resgatando um pouco da história da série, Hannah armou uma vingança contra aqueles que ela sentia que haviam lhe feito mal. Mas, um exercício importante que foi esquecido pela personagem é o de reconhecer-se como alguém que também comente falhas. E de que a verdade é relativa. É importante tentarmos resolver os problemas de outro jeito, conversando, evitando dar ouvidos a críticas e insultos ou mesmo dar distancia de quem não temos tanta afinidade. A vingança acaba por retornar na raiva, um afeto que pode voltar-se contra cada um, é no corpo de cada um que cada pessoa sente a raiva.
Entretanto, chamamos a atenção para a importância de tratar com os estudantes acerca da responsabilidade em reconhecer a si mesmo, como já sugeria o filósofo Sócrates. É importante sermos flexíveis com os erros, eles fazem parte. A responsabilidade sobre o que cada um faz é fundamental para nos posicionarmos de forma diferente sobre o que aconteceu, julgar, apontar o dedo e se culpar não serve para nada além que produzir mais sofrimento a todos.
O autoconhecimento é o exercício da investigação sobre si, uma espécie de mapeamento interno sobre suas ações, emoções, desejos e sentimentos. Uma compreensão do que é preciso mudar em nós para nos tronarmos melhores. Entretanto, mais uma vez lembramos que ninguém é bom em tudo, ninguém é perfeito, mas podemos nos desafiar para tentarmos melhorar sempre.
Como educadores, temos o compromisso em trabalhar para o desenvolvimento integral dos estudantes. Além disso, o autoconhecimento e autocuidado é uma das competências dispostas na BNCC para serem trabalhadas no ambiente escolar. E, se o sujeito não é separado das suas emoções, também é nosso compromisso pensar práticas educativas que potencialize o desenvolvimento socioemocional de nossos alunos.
ATENÇÃO EDUCADOR: Ressaltamos aqui que quando um adolescente não consegue localizar o que sente de dor, angustia, sofrimento, e isso persiste, o melhor a se fazer é encaminhar para o serviço de saúde para atendimento psicológico.
O mapa mental pode ser um excelente recurso para descoberta de si. Trabalhando seu eu como tema central, solicitar os estudantes para que construam seu mapa a partir das palavras-chave, imagens, desenhos, gostos e interesses pode ajudar a refletir sobre o que compõe cada um, suas características particulares, interesses coletivos, etc. Outras estratégias podem ser usadas para potencializar a descoberta de si e a busca do autoconhecimento nos estudantes, como por exemplo os gêneros textuais (escolha de textos, reportagens, temas de interesse…), uso da imagem e autoimagem (self como forma de se ver e mostrar-se ao mundo, redes sociais, influenciadores, páginas de interesse, assuntos que despertam atenção…)
Facebook, Twitter, Instagram… eles transformaram a gente numa sociedade de perseguidores. E nós adoramos.
(Hannah Baker – 13 Reasons Why)
Cada dia mais as redes sociais tem se tornado um espaço de ser e estar no mundo. Assim como é a escola um dos espaços de construção do indivíduo para a sua vida em sociedade, é cada vez mais inevitável que essa lógica se estenda também para o universo online. E o que pode se ver hoje é que ainda temos muito o que aprender sobre formas harmônicas e saudáveis para se conviver nesse espaço, sejamos nós jovens, adultos ou idosos. Parece que por lá não se mede esforços para estar em evidência, seja com feitos louváveis ou por atitudes desprezíveis. A moda hater ganha cada vez mais força e se tornar um perseguidor e juiz da conduta humana tem sido uma prática comum nas relações digitais.
Um outro destaque é que as tais redes sociais tem sido mais um forte concorrente nas distrações do mundo que competem com a formação de nossos estudantes. Mas, será que de fato devemos apenas tratar as redes sociais como concorrentes das práticas educativas na escola? Talvez, trazer o “inimigo” para perto seja a melhor forma de lidar com ele.
Por detrás de cada conta, existe um sujeito. Uma pessoa composta de emoções, sentimentos, forças e fragilidades. Um ou muitos desses sujeitos pode ser seu aluno. Será que ele pode ser um desses que sente prazer em ser um perseguidor digital? Ou, será que pode ser uma vítima dos ataques digitais? Seja de um ou outro lado da questão posta aqui, ambos precisam aprender com essa lógica das relações digitais, muitas vezes construídas em terrenos frágeis de afeto.
Precisamos ensinar a nossos estudantes a selecionar o que consomem nas redes sociais e perceber o que estão oferecendo. Como falamos no tópico anterior, isso revela bastante sobre quem somos e/ou quem estamos nos tornando.
A internet nos disponibiliza ter acesso aos mais variados tipos de assuntos e isso deve ser o grande aliado da educação. Contudo, é importante que trabalhe em seu aluno que informação não é conhecimento e que para buscar o conhecimento é preciso exercitar o pensamento crítico sobre as informações que nele chegam. Por isso educador, use a tecnologia a seu favor e o acesso as redes sociais como aliada para suas práticas educativas a fim de potencializar nos estudantes a importância de fazer escolhas de um consumo saudável nos conteúdos digitais e entender que certos conteúdos podem ser prejudiciais podendo inclusive influenciar na sua conduta, seu humor e sua relação com o mundo.
Não há nada de errado em dizer que você precisa de ajuda.
(Hannah Baker – 13 Reasons Why)
Muitas pessoas se sentem envergonhadas, acham ou sentem que seus problemas não são importantes o suficiente para buscar apoio. Infelizmente, ainda acreditamos que nossos comportamentos e sofrimentos acontecem porque nós queremos e pensamos que deveríamos ter controle total sobre eles e os ambientes externos da sociedade muita das vezes reforçam essa ideia.
Bullying, agressões, perseguições, violência. Muitos são os temas abordados na série e que também atravessam a realidade de jovens e adolescentes como Hannah. Enorme era a sua solidão e cada situação, a adolescente se fechava mais. A solidão desespera. Quem já não teve esse sentimento de estar sozinho ainda que cercado de muitas pessoas?
Pedir ajuda pode ser um processo difícil. Por isso, criar um ambiente favorável onde os estudantes sintam-se seguros para pedir socorro quando precisarem é fundamental na construção das relações no cotidiano escolar. Muitas vezes os pedidos de socorro dos adolescentes podem aparecer através de atuações: criando brigas dentro do espaço da escola, ou sofrendo com isso, fazendo transgressões as normas da escola como forma de convocar os adultos a intervirem com conversas e mostrando o limite. Algumas atuações são formas de “chamar a atenção”, esse é um sinal de que alguma coisa não está indo bem. Assim, os pedidos de ajuda, nem sempre serão com palavras, pode ser com atos ou com uma mudança brusca no jeito de se apresentar nas salas de aula como por exemplo: ficando mais agitado, tímido, distraído, queda de notas, etc.
Criar um ambiente de confiança é o caminho para que possa abrir o diálogo e prestar a escuta para aquele que se sentem sozinho. Deixe claro que é importante dizer quando precisa de ajuda, seja ela curricular, de aprendizagem e/ou emocional. Estar disponível e aberto para os jovens, criar uma relação amorosa, afetiva que perpassam as paredes das salas de aula pode ser o primeiro passo para ser companhia daquele que se sente só e ajudá-lo a entender que não se deve, nem é preciso escolher a solidão.
Você não pode reescrever o passado.
(Hannah Baker – 13 Reasons Why)
O passado pode até não ser mudado, mas você também não vive mais lá. Seu tempo é o presente e o futuro deve ser sua perspectiva. Por isso, é preciso olhar para o passado apenas para tirar lições e transformar as experiências em aprendizados para escrever seu presente e projetar seu futuro.
Trabalhar a ideia de passado, presente e futuro parece óbvia no contexto escolar, entretanto, o que nos parece necessário é a urgência em trabalhar esses conceitos de forma mais reflexiva, pois, a velocidade em que o mundo vem exigindo das experiências e da relação com os acontecimentos não tem dado tempo para tratar as temporalidades na vida.
Sendo o amanhã uma projeção, pois a ideia de futuro é cada vez mais investida no cotidiano escolar exigindo escolhas imediatas que atendam tais projeções de futuro. O ontem é o lugar da memória. O que a escola tem feito das memórias? Não queremos aqui trazer em questão a memória como fato histórico trabalhado nos currículos escolares. Nesse momento, queremos chamar a atenção para a construção histórica de cada estudante no qual recebemos em sala de aula. Como bem diz Hannah Baker, você não pode reescrever o passado, mas o que ela não disse e devemos trabalhar em nossos estudantes é que eles têm todas as possibilidades no tempo presente de escrever o próprio futuro.
Trabalhar com os estudantes a valorização da própria história, de reconhecer os contextos históricos nos quais estão inseridos, o que os trouxe até onde estão e quais construções fazem disso é fundamental para formar nos jovens a capacidade ter um pensamento crítico e buscar formas de reconstruir outros caminhos possíveis.
É importante inserir em nossas práticas educativas ações que fomentem o pertencimento em nossos estudantes. Apresentar e estudar histórias locais, pessoais e não apenas as reconhecidas pelo senso comum como heroicas. Contar histórias que a história não conta permite encontrar nelas aproximações e distanciamentos da própria história e com ela construir saberes e aprendizados.
Se a dor não for sua, não chame de drama
(Hannah Baker – 13 Reasons Why).
Se coloque no lugar do outro e busque ter empatia, tente sentir o que ela sente se estivéssemos no lugar dela. Esse exercício nos ajuda a não diminuir a dor de ninguém e nos permite ter um olhar mais humanizado para aquele que sofre.
Falar em dor não é um exercício fácil, mas é importante. Muitos procuram aliviar momentaneamente a dor emocional que sentem e controlar o que se passa consigo causando em si mesmo mais dor, uma dor física como forma de materializar o que sentem e ferir-se parece ser a única maneira de lidar com os sentimentos que os avassalam. Você já deve ter ouvido falar em casos de jovens que se automutilam e aparentemente não sabem dizer a motivação de sua ação. Talvez já até tenha encontrado em sua trajetória profissional algum caso assim.
Mas, como abordar quando chegar até você alguém precisando de ajuda para curar as dores emocionais? Primeiramente, tenha empatia e busque deixar claro que estar disposto a servir de escuta sem julgamentos. Julgamentos não curam feridas, empatia sim! Depois, busque formas de ajudar direcionando se necessário for a um profissional que possa acompanhar o caso. E por fim, deixe claro que você é alguém confiável e que sempre estará disponível caso precise de um bom ouvinte. Mas lembre-se, seja esse bom ouvinte!
Em Paracatu, para obter um atendimento, basta procurar*:
*Informações retiradas do site da prefeitura municipal de Paracatu em 13/09/2022
Hannah revelou 13 motivos para desistir da vida. Ela não teve coragem para viver! Mas, não é essa história que queremos ver em nossos estudantes e na vida daqueles que nos cercam. Por isso, queremos ter você como aliado na formação plena de jovens e adolescentes que precisam encontrar motivos para seguir em frente. Para viver o presente e sonhar com o futuro.
Sempre haverá motivos para ficar vivo, mesmo que no caminho encontremos algumas dores, sofrimentos, desilusões, tristezas e até solidão. Por isso é importante valorizar em nossas práticas cotidianas os pequenos acontecimentos, as coisas simples que por vezes parecem até desimportantes. Potencializar na formação dos estudantes que é possível encontrar no caminho, alegrias, amizades, afetos, carinhos, realizações e muito amor.
Sabemos que a luta contra a depressão e as doenças emocionais são reais e entendemos os desafios de quem vive essa realidade. Contudo ressaltamos a importância da informação, de buscar ajuda, de acreditar que é possível vencer essa guerra. E que ainda que leve um tempo, ela vai passar, vale a pena insistir na busca pela vida. E para a construção desse pensamento, é fundamental o papel da escola e do espaço para trabalhar a saúde mental no ambiente escolar. Trabalhar cotidianamente para que esses jovens possam perceber que apesar dos dias maus…
Esse também é o tema que está sendo debatido pela Prefeitura Municipal de Paracatu através da Secretaria Municipal de Saúde, por meio do programa de Saúde Mental, que iniciou a campanha Setembro Amarelo, uma campanha nacional com o intuito de chamar a atenção da população para a prevenção do suicídio.
Com objetivo de alcançar o máximo de pessoas para evitar casos no município, o debate busca ressaltar sobre a importância de escutar e acolher a dor do outro, apresentando formas de agir e prevenir nas situações de suicídio.
Para saber sobre as programações no município acesse: https://www.paracatu.mg.gov.br/portal/noticias/0/3/2866/prefeitura-de-paracatu-inicia-acoes-de-prevencao-ao-suicidio
História Frases De Hannah Baker
AÇÕES INTEGRADAS DE EDUCOMUNICAÇÃO PARA PREVENÇÃO AO SUICÍDIO E DA AUTOMUTILAÇÃO
cartilha_1.pdf (prevencaoevida.com.br)